O CRESCENTE DESINTERESSE DOS BRASILEIROS POR MISSÕES .

18/07/2023


"Todo cristão que não é missionário, é um impostor"

Na mesma época em que se projetava um desenvolvimento glorioso para a economia nacional – o chamado "milagre econômico" dos anos 1960 e 70 –, outro setor do país, a Igreja Evangélica, também experimentava tempos de intensa euforia. Abarrotadas de jovens atraídos por uma mensagem cristã atenta aos seus anseios, as congregações faziam planos dourados para o futuro. A ideia geral era transformar o país no celeiro da obra missionária global. Difícil era encontrar igreja que não tivesse um departamento de missões e planos de enviar obreiros para ganhar o mundo para Cristo. A mensagem escatológica, então em alta nos púlpitos, era uma só: pregar o Evangelho a toda criatura, a fim de que o Senhor voltasse depressa. Organizações missionárias surgiam a cada dia, atraindo gente que desejava dedicar a vida à boa obra.

Veja: Por que as pessoas deixam de amar missões?

No entanto, neste início da segunda década do século 21, o que se nota é que, se tudo não passou de mero entusiasmo – e números vigorosos da presença missionária brasileira mostram que não –, a situação atual é bem diversa daquela que a geração anterior projetou. Missão rima com visão e ação, e as duas palavras andam bem distantes da maioria das igrejas evangélicas brasileiras, segundo especialistas em missiologia. Mesmo com o acelerado crescimento numérico dos que professam a fé evangélica no país, que seriam quase 20% dos brasileiros de acordo com projeções baseadas em dados oficiais, o envolvimento dos crentes nacionais com a obra missionária, em todas as suas instâncias – seja social ou evangelística –, segue a passos bem mais lentos que o possível.

O conhecimento das demandas missionárias é exposto em cada campanha ou congresso. Testemunhos são derramados nos púlpitos, levando a muita comoção e decisões pessoais. Passado algum tempo, contudo, os compromissos assumidos por um maior envolvimento com a obra de evangelização e intervenção social se esfriam e a missão de alcançar o mundo com o amor de Cristo fica a cargo dos missionários de carreira – isso quando obreiros enviados não são simplesmente esquecidos no campo. "Infelizmente, o jargão de que cada cristão é um missionário está sendo esquecido. A ênfase em muitas igrejas é pelo crescimento da congregação local".

DISCURSO E PRÁTICA

O que parece evidente na paradoxal situação da Igreja brasileira, um contingente com enorme potencial humano e financeiro, mas pouco utilizado quando o assunto é o "Ide" de Jesus, é que a miopia missionária passa pela liderança – uma barreira difícil de ser transposta, conforme relatado por gente que trabalha em ministérios e departamentos específicos. Essa tendência à inação, alimentada pela valorização de outras prioridades, acaba contaminando o rebanho. Quando a visão do líder não passa das paredes do templo, dificilmente a igreja desenvolve alguma intervenção importante, até mesmo em sua comunidade. "De fato, quando o dirigente tem visão e é entusiasmado com a obra missionária, a igreja tende a acompanhá-lo.