O PASTOR E A POLÍTICA

13/08/2020

O PASTOR E A POLÍTICA

Existe uma grande polêmica quando o assunto é o ingresso de pastores no cenário político.

A ala refratária utiliza o argumento de que Jesus nunca se envolveu com política, por isso líderes cristão não deveriam se envolver também. Soma-se a essa resistência, a traumática lembrança da época em que havia o monopólio da religião no Brasil, onde existia uma grave cumplicidade entre a igreja e o estado.

No Brasil, a partir de fortes lutas sociais, em fevereiro de 1891, a primeira constituição republicana proclamou a separação entre a igreja e o Estado, afirmando assim o caráter não religioso do novo regime de Estado. Nada autoriza um comportamento especial em relação a determinada religião. Inclusive, o princípio da Igualdade já era estabelecido na Palavra de Deus muito antes de qualquer Constituição de um país: " Uma mesma lei tereis para o natural e para o estrangeiro." Levítico 24:22.

Contudo, é necessário estabelecer uma acentuada diferença entre a consagrada conquista da separação do Estado e a igreja; e a possibilidade de um líder religioso exercer seu direito de cidadania na política, através da candidatura para eleição realizada pelo voto popular.

Na seara jurídica, nenhum indivíduo pode ser privado de seus direitos pelo fato de professar sua fé. Dessa maneira, tanto fiéis como autoridades eclesiásticas podem legitimamente se habilitar à ocupação de cargos eletivos, desde que presentes os requisitos da lei eleitoral. Num Estado plural e protetivo, que se estriba na maximização da liberdade, não é legitima qualquer norma que venha a proibir que fiéis ou autoridades eclesiásticas possam assumir cargos públicos, seria uma clara demonstração de perseguição religiosa.

No aspecto religioso, os textos Bíblicos destacam diversos homens temente a Deus reinando em sua época: José do Egito, Daniel, Rei Davi, Salomão etc.

Nesse sentido, o sábio Salomão aborda as consequências de tipos de pessoas na governança: "Quando os justos governa, o povo se alegra, mas quando o ímpio domina, o povo geme" Provérbios 29:2. Aliás, esse firme fundamento serve para qualquer cargo de liderança.

Quando Jesus ensinava o povo e seus discípulos, Ele transmitia valores supremos e eternos do seu Reino que devem ser aplicados em todas áreas da vida humana. O seu maior confronto foi contra o sistema religioso e não o político. Portanto, votar em cristão para cargos políticos a fim de se estabelecer uma governança pública utilizando-se dos Princípios bíblicos para não é um pecado.

Daí se concluir a relevância do cristão para se envolver em cargos que exigem tomada de decisões que irão influenciar diretamente vidas de milhares de pessoas.

É natural que o pensamento religioso transcende o aspecto eminentemente da fé praticada nos Templos. A escolha por uma religião representará um especifico modo de vida que influenciará nos mais variados comportamentos humanos, como forma de se vestir, de se alimentar, etc.

A cautela que o político cristão deve observar é que nem todas políticas publicas podem seguir rigorosamente os preceitos bíblicos. Não é o Estado um fiscalizador da correta aplicação das leis divinas. Portanto, apoiar o pensamento religioso na ideia de monopólio da verdade pode trazer graves danos.

Cito como o exemplo o carnaval. Nós cristão defendemos a prática do sexo apenas após o casamento. Diferentemente desse valor, no carnaval é fácil identificar a prática liberal do sexo, quando em novembro se constata o nascimento dos chamados "filhos do carnaval". Não só isso, o número de transmissão por doenças sexualmente transmissíveis aumenta nesse período. Diante disso, as autoridades de saúde pública, mesmo professando a fé cristã, devem avocar a responsabilidade e difundir o uso do preservativo na época dessa festividade, a fim de evitar uma lesividade maior na saúde pública.

Seguramente afirmo que proibir cristão de chegarem a cadeiras públicas não faz sentido, quando se tem diversos fundamentos na Palavra para governança de uma nação.

Lembro da severa advertência do Profeta Isaías para os Legisladores: "Ai dos que decretam leis injustas, e dos escrivães que prescrevem opressão. Para desviarem os pobres do seu direito, e para arrebatarem o direito dos aflitos do meu povo; para despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!"             ( Isaias 10:1-2. )

Para os Administradores Públicos, a honestidade como um valor inegociável: "pois zelamos o que é honesto, não só diante do Senhor,mas também diante dos homens" 2 Corintios 8:21.

Para órgãos julgadores, os deveres da retidão nos julgamentos dos juízes: "Não torcerás o juízo, não farás acepção de pessoas, nem receberás subornos; porquanto o suborno cega os olhos dos sábios, e perverte as palavras dos justos. A justiça, somente a justiça seguirás; para que vivas, e possuas em herança a terra que te dará o Senhor teu Deus." Deuteronômio 16: 19-20

Não se pode exigir do Estado uma neutralidade absoluta nas suas condutas públicas, distanciada da perspectiva religiosa. O povo nada mais é do que um dos elementos constitutivos do Estado (elemento humano). De modo que o rumo da política, no jogo democrático da eleição através do voto popular, inevitavelmente são ditadas pela própria identificação das preferências da maioria da população.

Tal circunstância, por si só, não se revela apta a ameaçar a cláusula da separação entre Estado e Igreja. Pelo contrário, se o Estado, apesar de conceder aos cristãos o direito de ter uma religião, mas os impedirem de a praticar, incluindo as diretrizes políticas, chegaríamos a uma conclusão única: não haveria então a liberdade religiosa. Pois fato é que a crença-ação estão intimamente ligadas. De nada adiantaria ter ampla liberdade de crer se os mandamentos estabelecidos não pudessem ser vividos nas mais variadas camadas institucionais.

É sabido que a esperança maior dos cristãos é a tão sonhada morada celestial. Isso, no entanto, não pode relativizar a importância da sua participação nas instituições humanas, uma vez que a sociedade nada mais é do que um reflexo direto da própria religião por ela professada.

Portanto, a negação de valores cristão na vida pública e a proibição de seus fiéis de participarem da vida política culminariam por um enfraquecimento da própria tutela da liberdade religiosa, tornando inútil todo pensamento religioso.